Thursday, July 26, 2007

é o caminho da felicidade

meus olhos se enchem
de dor irreal
aqui em chão batido
de sangue
aqui onde se cruzam destinos
imperfeitos

minha terra de muitos
infortúnios
eu bebo a canção
dos alegres
eu culpo os reis
patéticos

eu ouço as vozes
se erguerem
para cantar futilidades
aqui neste lugar de terra
perdida
onde nosso destino
é acomodar

eu não choro
pelas ruas apagadas
de humanidade
eu não rezo para deus
algum
eu não culpo a mim

apenas sigo o fluxo contínuo

a fome

tenho fome de teu corpo
tenho inocência
de um olhar terno
mas a fome de um
abutre

tenho fome e agonia
de almas
que digam
uma palavra verdadeira
de um som que insinue mentiras

tenho fome de tantas coisas
que esqueço
de estar ao seu lado
que desejo apenas ter

a fome atormenta
me faz esvaziar o turvo
rio da consciência
me faz seguir meus instintos reais

tenho fome! Tenho fome!
agora e depois do agora

neste sempre depois tenho fome
e mais fome
de ti e das coisas
neste estômago vazio
que apenas se importa em saciar
este sentimento

dormindo em cemitérios

de corpo frágil
um afago nos clandestinos lábios
falsos, falsos
fracos se deitam
com prazeres
futéis

de pele cinza
a ruína estampada
marcada, fatídica
olhares que mentem
palavras que secam
antes da boca se abrir

a cura do mal
se esconde
no ventre deste mesmo
mal, mal do século

fim dos tempos
tempo, tempo
inútil pensamento
agonia sem discernimento

Monday, July 23, 2007

seres fatais

é a morte que ronda
nas costas
desvios que fundem em caminhos irreais

tuas mãos desfiguradas
tua alma transplantada
teu corpo é carne
amaldiçoada

do espelho vejo
os mesmos revezes
eu tempo o futuro
descrente
que se concebe

minhas lágrimas
são sujas de ódio
de dor e de meu egoísmo

- não sou messias
- não sou pagão
- não sou mesmo eu

futéis frutos
que nascem no infortúnio
são dejetos jogados na ladeira
daqui todos somos insetos

é a morte esculpida
nas sílabas, nas ruas, nas canções
é a morte estampada em cada
rosto

somos iguais perante o fim
somos todos irmãos
somos todos frutos podres

é hora

o silêncio fere
o tempo comm navalhas sanguinárias

o rio selvagem nos cega
diante ao êngodo humano
tantas conquistas
tantas vitórias
impérios de futilidades
e o mundo contorce-se
na cobra feral
de seus erros

durma criança
durma esta noite
o sono dos tolos
a cegueira inflamada
morra infiel
nas terras cristãs
morra nas brechas duvidosas
dos deuses enforcados

o tempo é linha
descontínua
a sua pela nua
que dança
nas labaredas do pecado
o réu se culpa pela inocência
hipócrita
pelo som ignorante do martelo
de vozes

elas dizem:
-Acorde!Acorde!

abra teus olhos

pelas ruas vazias
insanas perguntas
desavisados olhares
cruzaram um céum de fogo
perguntaram
ao tudo
o resplandescente nada

mil palavras profetizam
o fim
quando cada gota de chuva
desperdiçada
cada beijo sem vida
cada vida
destilada
em veneno
é um fim particular

hoje o dia amanhece
também vazio
hoje as ruas
festejam
uma felicidade
tardia
será o fim dos homens
para o bendito inferno
do real

Sunday, July 22, 2007

apenas chuva

debaixo do guarda-chuva
um homem está
protegendo da chuva
um homem molhado está

parado diante a tempestade
ele vê e sorri
corpos desafortunados
correndo em desepero

a chuva que cai, molha
a chuva que molha continua a cair
e ele só pensa
- é apenas chuva de inverno

assim vou eu

no corredor
ressoa a voz calma
recua os prantos
da dor
e lágrimas

assim ouvimos a a chuva cair
romper no silêncio
a figura juvenil
o sorriso do fim
um abraço no beco das almas

fecho as janelas
breco as favas de escuridão
eu vou para lá
para longe nas ruas
de tijolos amarelos

deixe tudo ruir
enquanto eu puder
viver aqui comigo
eu vou morrer
mas o que vivi

não será passado
nas escritas deste livro
vou apagas as luzes do quarto
para ainda ouvir aquela voz
que ecoa na mente

(incompleto)

deve haver muitas
questões verbais
deve persistir
nestes lugares
lúgubres
fossas criativas

simplesmente eu vou recorrer
por vocabulários estranhos
para afirmar minha ignorância

ele e sua vida

ele procura a chave
para abrir
o porão

el consuma as vidas
ao seu redor
ele vive pelas linhas divergentes
em questão

falta tanta poética
em seu lar
falta sentir
em seu viver

ele que rumina
todos os seus sonhos
ele que consome
tantas coisas bobas

ele, o rufião
o maltrapilho de si mesmo
ele em questão
e psicanálise

ele que ruge com leão
que foge ao som do mal
não pode haver alguém
igual a ele

não pode haver tanta gente
igual
que respira o mesmo ar
não pode coexistir
sem apagar
ele que se expressa
no incêndio

ele que beija
no escuro
e ama na luz
ele que anda sempre só
precisa perguntar
que vida é essa?
o universo contido em versos
o real invertido em terços
é tudo que restou dos escombros deste
lugar
o universo contido em versos
o real invertido em terços

é tudo que restou dos escombros deste
lugar particular, chamo de lar

meu próprio inverno
enterro cada doce pensamento

vozes sufocadas

tudo parece diferente
neste cais de lobos
famintos e sóbrios
aqui parece instântaneo

vidas de plástico
sonhos filtrados
neste lugar de repressão

ouço o roncador
da depressão
despertador
de ilusão

nas úlceras de ilusão
caminhos apagm-se diante
as ruas iluminadas

manchas de ódio e revolução
confundem-se nas prateleiras
do consumismo

peças de xadrez
movendo-se
nas cadeias de ideologias
perdidas

sentimos fome
mas nos resta apenas figuras
de expressão

duas palavras

resta ainda dizer
coisas
escondidas

duas palavras
pequenas
duas facetas iguais

sílabas imperfeitas
que se confundem
em tristeza

resta dizer
duas verdades
que se conjuram no infinito
vou relembrar o nome da utopia

reforçar
duas palavras perdidas
nunca antes ousadas
e ditas

duas pessoas
ditas amantes
se negam para ter um amor
futuro

duas reles
palavras que se gastaram no tempo


e suavemente deixar
para trás
duas palavras
de amor

(sem nome) - incompleto

isolado na torre de marfim
no infinito
sentir

prisões que se fazem
celestiais
facas que ameaçam
a harmonia

papel alado

num céu ainda belo
havia um papel
amargurado
a voar

num tempo remoto
onde pensar
ainda resiste em significar
algo para ser
havia um lugar
para se amar

onde os papéis voam
sem peso
onde as palavras repetiam
canções

foi onde guardei
as súplicas inocentes
onde tudo se confundiu
o amar tornou-se ódio

papel amassado
no fim de sua trajetória
pare na janela pedida
deixe escrito o poema
de amor
feito como canção

papel voadorfuja
em liberdade
deixe remoer a distância
entre as almas
amantes
que se despedem no beijo
invisível do vento

Sunday, July 15, 2007

barbitúrico

enveneno
lentamente
seguindo os ócios
de agora

cada presença
vivenciada
engulo cada visita
inesperada

dizem muitos
muitas vezes
sendo assim
refratário,
assassinado,
mutilado

cada gota
degola
pedaços
genéricos
histéricos

anula-se assim
identidade
empena-se
o hoje
para relutar
relutar o quê?

acordo
agora para
amanhã
ser enforcado

retornar

retorno
ao ponto inicial
seu sorriso ainda estampado
agora congelado
na memória
plástica

retorno ao fim
declarado
tingido de amargura
seus lábios
que um dia
tocaram......

remoem, ferem
lembrar, recordar
voltar
aos mesmos passos
à mesma sala de jantar
tudo parece estar no mesmo lugar

exceto eu
eu
e as memórias

refúgio

não precisa se esconder
não precisa tentar
não há como fugir
de si mesma

olhe no fundo
no alto
no espaço
nas horas
que retrocedem

todos os lugares
são inseguros
todos os cantos
obscuros

confiar é uma palavra dúbia
nosso lugar é ilusório
mas acredite
acredite
nos seus passos

não há lugar vazio
não há espaço seguro
pois somos todos
coletivos

paisagem flutuante

desperdício de vidas
entre esferas longíquas
no distante paraíso de
imagens

o tempo retorce-se
em fuga
cavando nas entranhas, horizontes
dispersos
multiplicando segundos
em eras

belas nuvens,
rios selvagens,
vales vertiginosos
resumos do bucolismo
às entranhas do homem-máquina
abrem-se
no caótico relógio
tic-tac tic-tac tic-tac tic-tac

desfigura,
destila o próprio tom
das cinzas
suas cores mortas
se encontram breu da realidade

paisagem é irreal
tão mutável
no compasso imperfeito
perfeito estado
do ser
que como eco repete e repercute ser..ser..ser e ser

Saturday, July 14, 2007

um lugar para estar

nas memórias fugidias
entre os mergulhos de deses´pero
encontrar palavras
que reatam
um tempo oculto

onde estava eu
neste breve sonhar
onde caminhava
sob passos cansados
e ombros pesados
?

neste corredor
uma curva norteando a cegueira
infringindo realidade
nas beiras da ilusão

eu era alguma coisa
presa neste mar involuntário
eu fui alguém que viveu
no segundos
de pura luz

meu lugar, onde esta
atracado
neste revolto oceano
de perguntas
?

onde estas
?

diário das margaridas

no enquanto
o canto sonho das sutilezas
meros e infantes sortilégios
pois dizer em tais alfabetos

são sementes
vagas em desejo
são estupefatas
em tom pequeno
amarelas radiantes
tais quais o sol

pálidas e multicoloridas
apagando-se em caleidoscópios
irreais
dançando em tom de alegria
nuas e belas
em nuances de aquarela

em brilhar mais que luz
afago ao redor da alma
um mínima palavra
de vastidão

intensidade em simplesmente
sentir, viver, respirar
cada canção diária
uma livraria de saber
uma pedaço
do múltiplos olhares
deste lugar chamado lar

Thursday, July 12, 2007

a passagem

os dedos estalam
esticam
os dedos cansados
buscam atravessar a fresta

de onde nasce esta luz?
de onde o som se perpetua
aqui apenas ouço o amor
o caloroso conforto

temo sair das paredes
para um lugar chamado
vida

Réplicas

replicantes, retirantes
itinerantes

somos meia luzes
espelhadas
contrapostas diante
ao espelho

reflexos de curta duração
desejos de itensidade
apagando-se nos instantes
esquecidos

diante fluxo contínuo
sempre os mesmos olhares
os passos
assim é como são os reflexos
adormecidos

réplicas. Réplicas e réplicas

Wednesday, July 11, 2007

gansos selvagens

haviam aqui dezenas deles
havia no singular
uma beleza constante
de saber da existência
ignorada
de ouvir o som dos
gansos
de sentir o cheiro
e apenas saber

de um dia para outro
tudo mudou
abandonados
foi o sabor que agora sentimos
das retículas visíveis
risíveis aos olhos

não havia lagoa
não haviam respostas para o consolo
pois nada existia
e perguntamos se alguma vez houve
tal existência

cantamos agora a canção
da lembrança
que se afasta mais a cada dia
para se perder no labirinto
da ignorância

simulacro

a imagem refletida
ondula em leve sincronia
toques das lágrimas celestes
dançam os reflexos

a imagem torna-se fluxo
repentino
muda-se em tom colorido
desfigura-se. configura-se

e agora é partilhada
é refletido todo o universo
que dança na linha imaginária
e canta no ritmo de cronos

o que guardei tornou-se
memória
imagem distorcida
da distorção de um mera reflexão

nosferatu até o amanhecer

seus dentes morderam-me
com vontade
arrancando
da carne, a alma

um êxtase tão profundo
em milésimos de milésimos
segundos
novas mordidas
perfuravam o corpo

meu corpo, não mais pertencia
meus olhos não mais saudavam
a vida
e a sensação tornou-se agonia
da laje
eu vi meu último amanhecer

metáforas da mãe

são vísceras
esmagdas no asfalto?
estirpados os órgãos da terra
da mãe

de tantas poesias já ditas
nossa mãe esfolada
e em dias contrai em dor
e fúria

teu sangue nos inunda
nos suja de ilhas
nos devora
em pesadelos próximos

é quente no inferno
no útero
somos apenas férteis
idéias
morrendo pela imagem no espelho

daqui vejo apenas o som
dos relógios otimizar
mais produção

laços

enveneno nos copos,
do ódio
no formol dos desejos,
meu corpo

cicatrizes e vícios
se entralaçam em dança
suprimindo virtudes

perguntas desfazem
as circunstâncias
pontuam a existência

além das barreiras
ásperas
pedimos socorro
pedimos um abraço
um laço para jamais
esquecer

homem de carne

de um lugar
no olhar vazio
um pesar lúdico

uma manobra
para lacrar a perturbação

placas dizem:
- Sorria!
(nem esboço, nem rabisco)

a pele de rocha se emudece
e contorce ao som
mudo das lágrimas

há um resíduo de dor
há uma sóbrio alívio
mas pele de pedra
ainda pulsa
o homem de carne

isolando

isola-me das coisas
iluda-me por tudo
que é sagrado

isolantes e isolados
é frio e congelante
os muros que se erguem

idolatrados e idiotas
são palavras cuspidas
a esmo

isolados e ignorantes
aos rumos que tomamos
egoístas e entediantes
em passos dados

milhares de perguntas
fluindo pelos labirintos da realidade
isola-me do frio
isola-me deste fim terrível
iluda-me num mundo iverossímel

a guerra que nunca acaba

terras congeladas
destas almas
frias
enjaulados estão os risos
em os sopros
de felicidade

assim ficaram as preces
dos calados
e o vento entorpecido pela guerra
despejava suas dores

o tempo passava
e as recordações
eram brilhos opacos do amanhã

nunca chegava
sempre distante
este futuro é ainda hoje dito
mas nunca alcançado

reflexos paralelos

suas palavras secas
profundas
como a poça da esquina
teu beijo quente
e soturno

dama de olhos pintados
moça de pureza
dedicada
tê-la no simples gesto de ver
devorá-la
como as esfinges faziam

no meio da multidão
no íntegro segundo
domesticado
rompi o lacre moral
arranquei de ti mais
que as vestes
sujei com as sílabas em sangue

por um maldito amor
por uma loucura vaga
por teu cheiro sórdido

nas grades da ética
no fundo do poço
nas escuridão de meu eu
fui condenado por
um ato
como antes no gênese
e agora na repetição
de gerações
sou a fatalidade dos egos
e das verdades agora nuas

maré baixa

vejo no horizonte
a morte no veleiro
nos mares
nas ondas e além do céu

náufragos à deriva
presas do sol
da crueldade de clamar
por um fim

o vento em suave
calmaria fazendo anedota
dos sentidos
e no caminhar latejante
o céu proclama com sorriso
o fim próximo

perdidos na mesma
ilusão
a realidade sempre rotativa
esperando a maré apenas
soprar

no entanto nada haverá
neste eco eterno do destino

boticário

foi de repente
entre os passos da primavera
eu trilhas rústicas
onde estava uma singela flor
entre muitas
ela brotou uma labareda
uma divina chama
sem nome

eu a coletei para
todo o sempre
para cuidar a beleza
de sua existência
mas o tempo
tão curto para os olhos
tirou-a de mim
e meus olhos
arderem pelo puro erro
de sentir e pensar em mim

Herança

está no sangue
nos olhos do quem vêem
está espalhada por toda
a agonia
o sentir

nas ruas, nas lápides
nas sombras
no destino e no corpo

há um grito afogado
um som heróico
um clamor vago
nestas somas de fatores
existe uma faca delineadora

esta é a herança humana
somos os herdeiros
de uma alma
de nossa própria miragem

apagamos perante aos ecos
tribais
nos formamos
em alcatéias
em fuligens riscamos nossos sorrisos

temos fome, temos força
e dançamos em volta do fogo
cuspindo ignorância
esta é nossa herança
nossa farta alma
rasgada de sujeira
da fuligem de nossos corpos

ainda vejo cumes intocáveis
e preces salvadoras
e ainda temo respostas futéis

a herança explode nas veias
eu sou o verbo cansado
a palavra degradável
como todos os reflexos no espelho
sorrio com tambor do desespero

manchas

manche as paredes de vermelho
rabisque o céu dos prazeres
e depravações

as lamurias deste mundo encolhem
no deserto do eu

proclame o refúgio

desmanche nos corredores
de ilusão e perturbe a paz sem solução

o Homem Imperciptível

entre suas palavras amargas
sofoca-se
em verdades envolvidas
de lacunas

dorme no ventre
eterno
no esconderijo materno
errante em anseios
solidão em reflexo

seu olhar corta
a paisagem desolada
ele pergunta os fatores
ele declara seu amor
por reversos rancores

quem é o homem?
onde está seu lugar
além da tenebrosa manhã

Monday, July 09, 2007

velório dos reis

o céu esta vazio
de lamentações

o réu se culpa
por palavras mortas

o véu que encobre
a nobre alma

purezas cintilantes
suavizando a passagem
da estação
mil preces insolúveis
no rubro chão
mancham as vestes
como rubro sangue

todas as palavras incógnitas
cansadas de existir
extinguem-se nos
lábios secos
do núbio amanhã

em busca da pedra mágica

preciso achar a pedra
aquela que perdi
no limiar

ás vezes olho no
ventre do céu
para recordar
a luz

é na semente deste
esquecimento
onde afundo meu íntimo
é esta a
escuridão
que jamais cessará

ás vezes olho ao infinito
para encontrar
a resposta
que amarga na própria solidão
do eu

preciso achar a pedra
que fincará
o fim da agonia itinerante

preciso dizer uma vez
mais
tudo. tudo aquilo
que ficou preso
nos cercados, nas prisões
e nos porões
destes diversos eus

Thursday, July 05, 2007

um menino que chorou

havia um tempo
em que chorei por todas
as palavras amaldiçoadas

mas tudo se foi como
um grito de desespero
um abafo das cicatrizes
reais

os ossos rangem
e o corpo se açoita
eu procurei no fim do silêncio
o clamor repentino
para saudar minha infância

mas tudo foi um termo
afastado
destes olhos enxarcados
há ainda lágrimas
que saudam o futuro

mas em que caixa
esquecida as guardei?
eu pediria para esquecer

como tudo na vida

ouço distante uma voz
me chamar
tão suave que se perde
nos caminhos do outono
que se resguarda no viés de um sopro

ouço diante uma voz
me acolher
quando de lágrimas me desfiz

não há como ignorar
as disparidades
não posso recuar
desta luta

é o caminho de cravos
a melancolia graciosa
que adorna a manhã
é um fim sem receio

eu ouço a voz proclamar
eu ouço no finito espaço
da dor
um sorriso, um sutil
gracejo de paz

mortalha de ferro

é a sede que nos mata

é a fome que nos mata

é o ódio que nos mata

são os homens que se matam



presos a mortalha de ferro

estamos ignorados

Tuesday, July 03, 2007

dia primeiro

terra plana
paisagem urbana
lá do céu
pássaro
sem véu

flerte de amor
simulacro e rancor
lamentação
em fragmentos

diafragma..diafragma

terno pavor
peças e chavões
remontando as ocasiões
eu e você feitos de latão

respirar..expirar

movimentos da concepção
paraísos e divagações
hoje serei somente mais feliz
para você um dia a mais

a última morada

árido e seco
o céu
o leito
esta feito a colheita
ácido e negro
o rio envenenado

a casa do penhasco
aqui é o lar
dos amaldiçoados
não haverá perdão
para os abandonados

frente daquele lugar

eu sonhei contigo
eu vivi comigo
por tempo demais
por horas atoa

eu queria dizer
o que a garganta parou
eu queria sorrir
quando a boca congelou
eu vi
uma passagem estreita

mas era um sonho
de um vida sozinha
era um remorso
remetido ao tempo
passado

passou. foi-se de repente
em frente eu devo prosseguir

areias negras

raros são os olhos
que emudecem
o amanhã

na claridade
rupestre
na labareda caótica
das estalagmites urbanas

vários se entrelaçam
em vidas
e vazios são os resultados

um buraco se abre
em todos os lugares
um estalo que rompe
o pensamento

destes homens pensantes
que adoecem
ao ver
os reflexos
da insensatez
sobraram
apenas
sentimentos
sedimentados

raros pensamentos

dizer no espaço
entre sons
refletir as imagens
de um sonho

faz acordar deste
torpor
famigerado caos
dádivas celestes


fazer os milagres
e achar seus olhos
brilharem na escuridão

antes houvesse
tulipas
onde eu ria com as brisas

palavras secaram
em árvores
sem ao menos nascer

círculos em si
ritos e passagens

o sino amplia o som
dos mudos
e o amor dos tolos

lástimas

me deixe totalmente só
para entender

se meus olhos vedados
pudessem ver
se nossos corações surdos
pudessem dizer

mas a lama que envolve
a verdade
ela apenas suja
a superfície

será que teremos piedade
se eu olhar para o rosto
do errante
para o erro intermitente

se eu gritar
saberei a resposta
lacrada

queria entender
queria...
apenas queria...
mas meus olhos estão submersos
absolutos
abnegados
de tudo

tantas coisas em uma só

uma lápide chora
na calreira dos remorsos
um fagulha remete
em sonhos

nas águas arrependidas
um pedra estanca cada
ferida
solitária

um homem zanga em piedade
uma multidão mata
sem culpa

uma criança grita por fome
e eu espanto a tristeza
sem nome

o dia se torna finito
o mar é apenas uma
extensa ilusão

eu procuro dizer
sobre o amor
mas apenas o rancor
culmina em mim

desculpe, desculpe
por passar sem dizer adeus

Monday, July 02, 2007

dias atrás

aqui venta
dialetos inviosíveis se desconversam

frio para o jovem sozinho
que esculpe sua dor

aqui no pico dos amantes

eu rio solene
o passado pedante

diante ao fim
esperando dizer

adeus

eu risco de cinzas

as manchas vermelhas

do seu bato desperdiçado

dançar na corda bamba

quantas coisas se criam
folias e sofismos
utopias minguantes
falantes usuais?

eles apenas seguem
sem saber pisar
nem andam
recuam nos frágeis barbantes

dizer que tudo
é grotesco
dizer que nada é burlesco

esperemos alcançar
um degrau distante
para finalmente
observar o mundo
daqui

tudo tem o mesmo caminho

assim o mundo envelhece
em ruas ausentes
corações contentes
e gritos latentes

tudo parece secar
como as pétalas
e as folhas
as frutas
para gerar sementes

igual ao redor
dos olhos
a morte desfaz em vida
e a vida se dilui em sonho
para gerar mais um pouco
de sentimento humano

o mundo envelhece aos poucos
mas ao olhar para trás
não se avista o passado
e pensando bem
nem mesmo o futuro

coração de gelo

sentado na mente
vazia
fazia chover em sonhos
aleatórios

em frente e rente
ao lado
havia o menino
o inocente, o homem
perene

havia sorrisos
diluídos em filtros
de alegria
ainda havia um ser humano
cavando sentimentos

no árido homem
fertilizado de dor
resta ainda ama
sem saber soletrar
tudo que flui
no coração de gelo

o outro lado do eu

um sósia de mim
eu vi um lugar para ser
uma pétala arrancada
é fatal

uma cópia de mim
sentir o mesmo
e ver dos meus olhos
o ruído de tudo

um medo de mim
não toques na pele
escamada
na fagulha acesa

há paixão seca
em corpos sólidos
em gelo rude
um termo de mim
definha em calma

há um lugar
para mim
dormir para sempre
sem ter que regredir
vou esperar até envenenar a utopia

cinzas e ruínas

um tormento
neste emaranhado pensar
altivo infante
alheio
as palavras sem encantamento

dia sóbrio
veste de figuras insólitas
em prantos
certeiros
vozes acumulam friezas

o tempo
percorrido ao lado
é sombra sem face
em ritmo
decadente

ruínas
e cinzas no porão
dos homens
triste e calado
caminham os cegos
de vida

réquiem

onde estive. onde fui procurar
na tempestade
profunda

oriunda dos males
alma mater
na cama enferma
estou

todos os pequenos
pecados
secaram com o corpo
defunto

pintaram o lar de palavras
sinceras, momentos
e retratos

ele não estará
quando você menos esperar
- Adeus

Sunday, July 01, 2007

uma jornada quase perdida

soltaram muitas crianças no mundo
é fundo poço de almas
aqui onde sobra carência
eu vivo enxergando luz

no frio de toda madrugada
numa rua abandonada
de uma lápide mal cuidada
vários vão caindo
nas valas
de um mesmo lugar

ouvia gargalhadas
inocentes, ouvia brincadeiras
convicentes
mas cada lágrima derrubada
uma vida arruinada
o chamado para a violência
de uma criança abandonada

de uma moral perdida
soltaram as crianças
no fundo, no curral do mundo
para entupir de calamidade
este nosso lar de infelicidades

culpados

não há mais beleza
as terras estão estéreis
os olhos não se cansam de chorar

o ruído do chicote estala
em cada segundo
tão rápido quanto respirar

os escravos pedem
algo
mas a voz quase rouca
diminuta no colapso
do tempo
se apaga ao zunido quase
férreo da morte

quem sabe

o silêncio se repete
neste lugar comum
onde se diz amar

nem as diversas palavras do dicionário
farão entender
o sentimento cravado
na antiguidade
da própia alma furtada

o deleite de olhos
vazios
espreitam beleza
para aprender mais sobre
o dialeto de amar

reflexos e desejos

uma imensidão de olhares
crus como as vestes
suas
repelem cada verdade
contestada

intensidade
é a palavra inerte
que rompe cada gota humana
nas jaulas da hipocrisia

uma nesfata multidão
olha por detrás do véu do circo
atonitos
e com desprezo

por apenas enxergar
espelhos refletidos sobre
o sonho humano

mais uma e mais uma

as preces que me ensinastes
não curam a embriaguez
não mais, nem nunca

as marés de seu cuidar
não salvam-me
de minha futil
existência

vou fluir na plástica
desistência mundana
entregar-me na folia
de um verão
na paixão repentina
de um trago ou dois

na sargeta, na rua
ou na casa da vizinha
me afogar na perversão
aos rumos longíquos
eu irei clamar
mais uma e mais uma

dissipar

as lágrimas perfilam meu rosto
e o tempo mascarado
se dissolve
em luz

cada tinta se contorce em pinturas
e o coração alvejado
em dor valsa por amor

tão fundo da rocha do eu
vou encontrando
as peças quebradas
da minha vida

cada segundo mais
vou descobrindo o porão
de sentimentos esquecidos
pela dor e pelo furto

quando quase uma flor despida
eu sonho em te tocar
além dos dedos
além dos lábios
para te dizer
para te ter
para finalmente morrer feliz

julgamento

a lua tem mascarado a noite
a foice
tem derramdao
sangue

é fim de prosa
nas orações de lamentações
é réu julgado
na calamidade
e instante

o fim se auto proclama
de interlúdio
poético destino
desgarrado de humanidade

um pouco além

é o fim dos áureos tempos
onde se sonhava de ser criança
onde cantava em roda
as prosas da infância

é onde que queria estar
no meio de gente grande
ainda sendo pequenino
quando olhar para o mundo
trazia instantes do velho sonhar

mas o chão sob meus pés
se desfizeram em átomos
e retratos foram as poucas
coisas deste lugar chamado
além da alma

simples

tenho procurado respostas
para entender
compreender

mas estou rendendo
a sintonia das palavras
aos sentimentos
menores

tenho distrído ao
ouvir o som
das palavras
ditas por ti

eu não sinto pertencer
em qualquer lugar
e por fim vou sendo
seu
em todo instante
que me chamar

estou enlouquecendo
nas mínimas partes
de você
vou completando as lacunas
do meu vazio
vou descobrindo
que eu simplesmente
sei sobre você
eu sei... E vou dizer...

dia seguinte

o frio passa
longe de meus olhos
assim caminho em passos
silenciosos

o rio
vive acima de meus sonhos
no fim de vários esboços
ansiosos

aqui eu fico
sem chamar a atenção de deus
na penitência ordinária
vou ficando embriagado
de paixão

estou de costas
para o mundo iludido
com a beleza que o frio deixou

um rio congelado
no tempo remoto
uma alma simples
dialogando com o nada

o frio fincou
aqui uma alma
sem graça

o rio me abraça
na claridade
do dia seguinte

pinturas

menina de olhos azuis
sonhas com lobos
e uivos assim

frenética menina de corpo
lilás
vem para meu lado
de cá

irei proteger
dos temores que afligem
serei ume scudo nas
trevas sem origem

paredes da realidade

os tambores dizem
aos imortais
símbolos constantes
da paz

mas não cremos
em deuses pagães
a ilusão da realidade
sabor de verdade

nesta hipocrisia
uma blasfêmia sonora
para despertar nosso ódio
cada ato uma repulsa
no mundo concreto

não há mais concerto
apenas risco cortados

um dia perdido na fúria

aqueles olhos irreversiveis
de amor
fraternos em tempestade
indivisíveis
e quase sempre infalíveis

do tempo em tempo
trilhando os rumos
em passos cuidadosos
amores em retorno
dedicados

anjos soldados em guerra
ilhas que flutuam em bombas
do horror
marcham em ritmo e sincronia
a frente do mundo
machando a terra
em vil esterilidade

amores de flancos, amores sem ranso
não dizem adeus na tempestade
de sangue

armados em coração
e alma
cantem a canção dos derrotados
nesta loucura humana
conquista profana

diálogos gastos
sem uso e plástico
digam aos soldados de chumbo
que suas almas não pagam
a liberdade

incompleto

horas cavalgam anunciando
o retrocesso do homem
flores acumulando
entre as ruas sem nome

as pessoas estão abafando
no fetiche de ser
enfurnando-se em canteiros
primitivos

desolado tempo calado
fatídico dia ensolarado
cada um preservando sua inocência
e pisando as flores que dizem
sempre a mesma coisa