Friday, November 23, 2007

Houve um instante
era sublime
num segundo esqueci-me
de tudo

era vazio
um buraco
um tremor
era vazio. Um vazio
que paira na loucura
uma fagulha
que serpenteia
a sensatezera vazio
era parte de todo o universi

Tuesday, November 20, 2007

o trem em intenso despertar

eles que aqui passam
sem nomes, cem homens
ou mais
por causas e ideais

eles que aqui cessam
e que não cedem um passo
milhares e milhões afetados
neste círculo instântaneo
sem frear, irão agora ter de parar

mas sim freando pela causa
pela idéia transparente
neste trem que pára quando
eles, cem, mil ou milhões
cedem e pedem por mais

e no circuito uma falha
nos dirá que este ritmo um dia irá cessar
o trem que não tem trilhos
os homens que não tem fome
serão fados irrelevantes de um mal maior

quero silêncio! Quero!

calam-se as vozes
avolumando no fim do corredor
calam-se as tempestades
que expandem lá fora
e o grito. e o grito é um murmúrio

anuncia-se o turbilhão voraz
e irreal
anunciam-se por cornetas
a chegada

calam-se os sinos que despertam
o amanhã
no finito regresso de todos os ponteiros
nenhum porteiro
terá coragem em receber

calam-se aos pés
as vozes dilaceradas
que proclamam repúblicas diletantes

calado estou ao rever em cada tópico
a mesma fragância humana
repetindo nos mesmos corredores
deste sanatório secular

milhares de cusparadas
milhares de cusparadas
eu devoro a terra
úmida
finjo ser parte do solo que piso

eu rogo por ser devorado
antes do fim do mundo

são frutos inconstantes que
prego em meu caminho

o fim de todos os dias

são os filhos mortos
pelos campos celestes
o futuro uma faca
estéril
que nos corta
uma lâmina lânguida de mentiras
que finge nos salvar

a fé que move muralhas
não rompe nossos destinos
calados

deuses despidos
homens burocráticos
vejo as migalhas de um mundo
coberto de medo
vejo as rimas esvaziarem
em porões
estéreis

o peito arde
cheio de ar pútrido
a alma calada
pede ressalvas
em agonia.

Saturday, November 03, 2007

canção da ignorância

o fascínio do meu vascão
vem de um coração
feito de aço e pura emoção
nesta rima simples
é o coraçõa de que ama futebol
neste país idolatrado
composto por mais hinos
que verdades

vou aqui com meu Vascão
torcer para ganhar
do Mengão
seja sol ou ou temporal
no estádio de futebol

vou reinar com o grito
sufocado
por um único gol salvador
ou por goleada histórica
este é meu país da cerveja e do churrasco
num interminável carnaval

hoje é dia de futebol
de domingão
e faustão
é a terra dos fanfarrões
somos todos loucos por futebol

meu país festero
que se adora enganar
no grande circo armado
da política do futebol
onde cantamos os hinos
sem saber refrão
nesta rua, nesta vulva
quase minha, quase santa
esperei e esperei
por te tocar
com dedos sujos e alma
limpa
te desejei quase sem suportar

mas tu não passaste
e simples assim sumiste
num etéreo pensar
de um sonho
de um humilde sonho

e tive que no precípicio
me enforcar
num gozo solitário me afogar
onde passou dama morte
nesta rua, nesa vulva
foste minha, foste minha
tem uma praga de poetas
tem uma nostalgia
fonética
em cada sílaba que gasta
estes falsos profetas
que fingem autodidatismo
e profilaxia verbética

fim aos tempos classicistas
para o refúgio destes errantes
neófitos

vamos cantar com alegria
e por não dizer putaria
deste solene momento
de poetizar cada singelo tempo
vivido

mentiras! E mentiras!
salve as cusparadas que acertam
o vôo incerto da gaivota

o palhaço que ri ao contrário

de um sorriso pouco inebriante
de um bufão quase
embriagado
de mal humor
mascarado

de máscara manchada
numa gargalhada
entre gorfadas
um palhaço que ri
em histeria crônica
que bebe em euforia sinfônica

de uma piada falsificada
de um quase roubo alucinado
de idéias
uma palhaço que ri
que mente cada olhar
que reduz a si mesmo

um palhaço que chora
de seu dia igual a muitos outros
um sorriso confinado na alma
que machuca, que cutuca
que deflora a inocência

um palhaço que não cala
não muda
nem planta mentiras
ele chora quando ri
ele ri quando ri
ele diz que nunca ri
que nasceu assim
palhaço, infante e tolo

foram os anjos que passaram

caiam do céu
feito pérolas
feito algodão
caiam sobre nós como neve
gélida anunciando
o frio
o fim

caiam de cima
feito pedras
feito bombas
pobres de nós
temerosos, descuidados
que morríamos feito
brinquedos de plástico

caíram sobre nós
como pedaços do céu
num silêncio após o estrondo
gritos e desespero
havia um marca, muitas marcas

caiu do céu feito
piano da acme
e vestígios repugnantes
e rastros e mais rastros espalhavam
denunciando o fim

Visitantes

ás vezes não importo
perder seu olhar de vista
esquecer as memórias
divididas
nenhuma flor da primavera
nenhuma flor da primavera
vou repetir
até que a escassez
sece

nenhuma flor na primavera

não existir

Não estou em nenhum lugar
não aqui, não ali
não estou neste instante
a existir

estou a afogar no breu da realidade
estou a sufocar as gotas
de superficialidade
que pairam em gotas de chuva

não estou aqui
nem ali e nem em nenhum lugar
estou a cercar-me de incertezas
a fim de deixar
uma dor neste tenso momento

deixam parar a borboleta
a alertar a clemente
e doce existência
ela encara e me beija a fronte
e eu num impulso etéreo a mato
com as mãos desnudas

roubo-lhe a vida
e alegro com a minha

a chuva lá fora

é o som da chuva
que cai no vazio
é o som refletido em ecos
que torna o momento solene

ouça a chuva cair
ouça o retorno sutil
de pequenas lembranças
retrocesso
suavemente um processo
vamos caindo. ficando mais novos
ficando mais leves

ouça o som da chuva
lá fora
longe daqui
longe de mim
vamos recobrar

- É apenas chuva lá fora!

acordei do êxtase
acordei deste afago atemporal
ouço a chuva cair lá fora
sorpando para longe os rumos
deste infortúnio

Friday, November 02, 2007

duas valsas

dois corpos flutuantes
nos passos sutis
beiram o inverno
fogem ao limiar de um
segundo

duas vidas fumegantes
isolando-se no calor infernal

reflexos

eu vi a face oculta
do lobo
através do espelho de mil imagens
eu vi a face descrita do mal

era vespertino e
pudera atravessar novamente
este bosque
em minha solitude
em meu consolo eterno

eu vi a face
descrita do lobo
que devora a carne
que fareja vingança e que me chama de homem

eu vi o mundo
despido secar
em vesúvios e terremotos
eu vi a lágrima sibilante

pudera voltar aos bosques
onde cada passo era um chamado
ao eterno e puro
onde ainda havia algo de paz
no silêncio, um ópio, um fim

eu vi a face manchada
do lobo
clamando ódio e ganância
eu vi os dentes do lobo
afiando e desafiando
a pureza insípida

eu andava nos bosques
eu era alguém real
mas o tempo virou um segundo
passado
o bosque um verde pasteurizado

eu vi a face marcado no espelho
eu vi a sombra inflamada

eu me vi no reflexo
lúgubre do espelho
eu vi a face de um homem
dissecado e sem vida
eu era o lobo faminto
de sonhos
eu era o fim de um começo sem fim

Thursday, November 01, 2007

sonho apagado

coalhou meu leite
azedo. azedume
de ruim meu leite
ficou
coalhado.

não tenho passos para além
deste copo vazio
de leite azedo

não passo de homem acéfalo
não bufo palavras conexas
não rio das lágrimas
desnudas

não verso rimas decentes
sou sim indecente
de alma
fingidor diluído em modernidades pagãs

meu leite coalhou
não beberei deste copo
não expurgarei este sonho
no princípio fundamental de acordar
temos fome da urgência
temos vontade de verter
em clemência

temos coragem emergente
desfilar nossa incongruência
fatídica sincrônia inútil

se eu deixar de existir
poderei voltar ao regresso mundano?
para encontrar meu fracasso real

quero acordar no beco
das lágrimas despovoadas

esvaziando sacos humanos

está vazio
aqui ainda está vazio
lotado de homens
lotado de gente
eu não ouço as vozes

aqui não há razão
não há plural
estamos cercados de espelhos
estamos vagando em massa

está vazio. Vazio
aqui
eu não ouço as palavras se conectarem

são homens vazios
esvaziando sentimentos
sedimentos no vácuo
são tolos e cegos
esculpindo depoimentos

estamos cercados de vidro
cortando nossos pulsos
de ecos vazios
somos todos vazios
catando brechas de luz
no meio de uma sala apagada

estamos vazios
dos ecos
estamos aqui
vazios de nomes e almas
somos todos espelhos esculpindo
hinos e sonhos
patéticos

somos ainda ecos vazios
aqui perdeu-se a razão
aqui eu vejo a dor esculpida
nos sonhos patéticos...patéticos...patéticos