Sunday, October 28, 2007

um corvo

Um corvo no topo
no topo do poste de luz
no topo do topo do mundo

um corvo abrigava a luz
que não existia

O corvo ali olhava o mundo
que se abrigava de si

que se humilhavam aos olhos de tudo

Monday, October 15, 2007

meus olhos

sim, eles ardem
não pela manhã gloriosa
não! Não e não!

meus olhos ardem
como se queimassem
por não acordar
por não ver os sorrisos
além deste manto ilusório

meus olhos queimam
como chamas vivas
pedindo sóbrios momentos
meus olhos recaem aos ermos
sentidos
meus olhos que se apaixonam
e se calam

eles ardem desesperados,
errantes debastados
famintos e sufocados
meus olhos, meus e de todos

eles proclamam e queimam
como vivessem, meus olhos
que ardem
ao tempo presente
meus olhos que sofrem neste caos
neste silêncio entoante

e eu choro por não saber
ou não aprender a rogar
não por mim
não por todos
mas pelo que nunca fomos
pelo que nunca conquistaremos

meus olhos calados
nas chamas
apenas ficam olhando o tudo ruir
e despedir

Sunday, October 14, 2007

um homem atual

sou um homem vazio
de muitos lares
de muitas casas
de tantos sonhos
de nenhum lugar

assim tenho buscado
a liberdade
de viver
de amar
de ser
tenho esbarrado em mentiras
e ilusões

eu sou um homem sem causas
sem falsas verdades
eu busco crer
em verdades
que ninguém mais diz

eu vivo a temer
o próximo horizonte
eu sou um homem
sem calças

notas escandalosas

perdoe por passar por esta via
este lugar
para beber, meu amor
eu sou assim.
que vivo por beber e farrear
vivo sem ter compromisso
vivo por sentir e divertir
com risos e graças

eu não culp0 por me odiar
eu não digo que está errada
posi eu sou assim uma figura
imaginária
uma irrealidade
tão distante.

meu amor eu ainda estou ao seu lado
tão distante, tão ingrato eu possa parecer
não me espere para o jantar
eu te amo
esta noite
e na próxima primavera

eu estou aqui
caido por amar
e beber este amor.

Saturday, October 13, 2007

passagens atemporais

sempre será outono
neste coração abraçado
pelo inverno

cada canção não ferirá
o gelo da insensatez
dolorosa vida
que se esconde
entre espinhos

arde como lágrimas lembrar
e resgatar dilúvios

homem invernal
hiberna no coração do tempo
esperando a primavera chegar

além do tempo

aquela culpa que guardei
aquela reminiscência sentida
hoje eu rumei ao fim do mundo
para afogar-me em mares
lúdicos de ilusão

foi onde achei a sereia
tal qual dizia nos contos que eu li
e no amor infindável
eu me dediquei
bela e linda como a imaginação pode conter
eu ri de sua beleza
e chorei
por ser humano

e noites e noite sob
a fina luz de todos os luares
eu dediquei-me a ti
foi no fim de um sétimo dia
que acordei náufrago
sem saber, sem entender
ou somente entendo que minha loucura
havia me alcançado
num lugar além do tempo

carnívoros

estranhos que se encontram
sem dizer ola!
se tocam como animais
em perpétuo cio

eu estranho cada visão
de ti
e cada palavra dita por mim

eu que toco cada parte de ti
eu sou sempre um estranho
sob a luz

enquanto no escro
ainda escuto sua prece por prazer
ainda somos estranhos nos tocando
nos achando neste mundo
caos e de ilusão

eu te conheço
como carne e em meus lábios
ainda sou um ser carnívoro

diáspora

o chão seco
pelado de alma
árido como os lábios mortos
da criança ainda bebê

o solo infértil
tão impenetrável como
a mãe casta

neste verão interminável
venho a secar cada
gota de vida
ver murchar a pele
e sumir cada vestígio humano

tantos sonhos e desejos
espalhados a morrer
pelo chão agreste
tantos choros ransosos
dispidindo no vazio,
no eco inifinito

deste sol
deste lugar chamado lar
vou embora
carregando a mala vazia
destas enfermidades
vou garimpando cada pedaço esquecido
de mim

mulheres em dores

a mulher de útero vazio
clama por um filho
não tido
a mulher de vida clandestina
que sangra
cada dia por um leite jamais
alcançado

mulher de trbo perdida
que zomba de si
que chora lágrimas
em forma de enchentes
mulheres de todas as formas
que dormem
imersos em pesadelo

apenas mulheres
dissociando-se em dores
incansável homem de pele de prata
menino de sonhos
fruto de lembrança

eterno entardecer

Hoje neste amanhecer tão cansado
eu resumo cada sentimento
mundano
como real
hoje eu durmo
para apagar
cada chama divina do eu
para que a noite tão bela
tão inóspita
me devolva os sentidos

hoje quero existir
como elixir
quero resumir
cada palavra
em simples versos
mas hoje eu sei que ficarei feliz
neste eterno entardecer
é sempre noite
nas suaves itinerâncias
de amar
é sempre suave ouvir
o canto de um mero rouxinol

é tarde na fragância de existir
eu quero responder
o chamado
mas o amargo sabor
de teu desprezo ainda
apaga cada luz
de meu sonho
futuro

Thursday, October 04, 2007

finito existir

tenho visto anjos voarem por ai
tenho percebido pessoas
vestidas de anjos
chorarem por ai

vi um por do sol
cair sobre as montanhas
vi a luz evaporar pelos
cantos

eu ouvi a canção de adeus
eu tentei não morrer
mas as palavras feriam
as palavras significavam
um ponto final

no finito universo do eu

Wednesday, October 03, 2007

o relógio mal indica madrugada
sua pele se contorce
com procedência duvidosa
o som da trovoada confude
ao último badalo da igreja

sob a face de um cristo
uma faca transpaça a garganta
uma dor sem palavras
se funde ao silêncio

é o som da agonia que
João de batismo
Lua de nome
e Maria das dores de espírito
sente

estes são os caminhos
escuros que se iluminam
pelo carmim vivo de um vida
trágica

assim nasce o conto
onde esconde em cada rosto
um símbolo
sem fé

a rua da piedade

nas esmolas que deslizavam
de mão em mão
haviam obrigados
generosos, mas muitos misturavam com
a solidez
de sórdidos pensamentos
por obrigações triviais
de uma gota de chá
de uma lágrima pintada com
as cores da podridão

eram móveis que ornavam
a varanda desta via crucis
eram objetos levianos da decoração

se atolavam como lixo reciclável
diziam serem
e existiam por persistir
um gole mais de vida
uma noite vencida
estátuas móveis
que há muito não pensavam
e apenas recrutavam piedade

prospero sonhar

São nuvens, estas que nos cercam
São corvos?
São carros, são pessoas de mal humor
São coisas que nos acompanham
São sonhos que desperdiçamos

São apenas santos sem nome
São chuvas que não mais molham
Era bom o mundo que havia cor
mesmo a ilusória cor invisível

seres reais

tenho tido sonhos
tenho ouvido sons
quero dizer palavras
quero brincar de gente grande

mas este mundo de estranhos
que apenas fazem
se esquecer de sonhar
que
faz de nós seres
reais

areia queimada

Eu to voltando de la
De tão quente
de tão seco voltei
Estava um secura que meus lábios
esqueceram do doce refrão de amar

E por isso estou voltando da terra
que um dia ousei sonhar
que um dia fez parte de mim

Da terra queimada
de lugar nenhum
Estou carregando poucos tesouros
pois perdi minha viagem
nesta jornada que até as pegadas
foram engolidas pela areia