Thursday, August 20, 2009

um salto para o infinito
o mar tão preguiçoso

Wednesday, August 19, 2009

a areia macia
meus rastros
sob esta pele tão lisa
este mar tão longíquo que me toca
na alma

na rocha com os olhos
presos no além
esperando chegar
o navio
do meu amado

deixa eu rodar pelo mundo
neste lugar cheio de lírios
palmeiras e a brisa
repentina

vem soprar do meu lado
marujo valente
que me faz esquecer
deste mundo tão vil
Quantos olhos que observam
quantos causos que se cansam
de causar
eu vejo e todos olham como
eu
a ciranda de truques
que se enganam
que se crêem em mudar
depois de algumas horas
percebo o erro
de cada palavra manchada
calada
fincada
fisgada de um ódio estranho
eu cresci e meu silêncio machuca
eu tenho espinhos nos lábios
na alma

eu busco respostas
que já sei

naufrágio

uma incerteza
na busca de uma razão, uma verdade
uma luta, sempre a luta
torno um clandestino
neste barco à deriva

atos nada heróicos
vozes usurpadores e gritos histéricos
percorrem estes corredores sombrios
no silêncio
encontro meu próprio desespero
refaço-me de velhos erros
e vejo que estou no mesmo local
no mesmo barco que afunda
levando todos os pedaços do eu

procuras incertas

meus passos em silêncio
retrocedem
ao ponto final
da partida inicial
todo percurso de voltas e obstáculos
de curvas sinuosas e pontes sem volta
ficaram agora incógnitos
como vazias lembranças
interrogações

questiono onde deixei
aquele menino, aquele sorriso
aquele lugar que era meu lar

um leviatã engoliu tudo
sim, tudo arrasado
como um furacão
um colapso
sou um derrame infinito
de auto-piedade
marmotas
fofocas
esta genitália
tanto bostejo nesta rua
avenidas, prédios
de falsidades
meu território amado
meu país verdadeiro
de mentiras
o ácido ainda corrói
destrói
faz das paixões
diálogos infernais
questionamentos vagos migram
para tão perto do eu

bebo este ácido feito de ódio
ignoro cada rótulo
e me afundo neste vale
de tormento

correnteza

é difícil amar
com olhos enxarcados
sua dor, sua raiva
uma agonia sem fim
ensurdecer, enlouquecer
cada passo em busca deste fim
abismal

é difícil deixar
todo o passado
uma lama grossa
funde a alma
e o corpo range por mais

ainda posso dizer
algo mais sobre o mar

Monday, August 17, 2009

pintando sete sentidos

sete palavras para dizer
sete coisas para deixar
restam ainda sonhos
e suaves nuâncias de uma manhã
passada

um mundo seco
e frio
eu espero na montanha
voltar a dizer
voltar a sorrir
cada dia passado

como o tempo passou e
eu fiquei para trás
como uma simples lembrança
sete memórias perdidas
sete vaga-lumes mortos

assim resume a vida
que trafega por nós
como um raio
somos apenas estudo
fragâncias desesperadas
que vivem como átomos dispersos
somos mais que sete pecados
mais que sete vidas de gato

mas o adeus é apenas único

um pouco

um pouco de prece
um pouco de pressa
presságios
quase devaneios
poucos fios
de cabelo
poucos risos sinceros
somos velhos
somos pouco
adultos
reduzidos a crianças
um pouco de prece
para um pouco de gente

um pouco de pressa
que o tempo já se esgota
somos todos um pouco tolos
consumidos
pelo ódio
logo já somos velhos novamente
nesta roda incessante
somos quase poucos
poucos de nós são quase humanos

prece para nós quase
homens

o último vôo

o anjo que ainda voa
nestas vitrines
de luzes e desespero
comunica com seu pai
sobre os erros
sobre a culpa
anjo pequenino
feito de maldade e ira

sua luz é roubada
em cada esquina
sua alma há muito vendida
sua inocência roubada
olhos de vidro, anjo de lixo

ainda sabe chorar?
ou faz disso sua arma
para roubar
vai pequenino se afugentar
do frio
vai fumar e esquecer que o mundo
pisa em suas costas

lembra de onde veio?
lembra de alguma coisa além deste piso frio
e de sua última tragada

Bebe um gole da minha ignorância
anjo de feiúra
voe para lá, onde talvez
ainda exista um sonho
feito de mármore

três culpas

nesta noite só
ficarei esperando
ficarei agonizando pensamentos
neste lugar onde as palavras
se colocam fugazes
eu fico a sonhar
a organizar pensamentos
para resgatar
cada peça de você
neste quebra-cabeça
infinito

nesta armadilha
nesta insanidade que chamo
de amor
eu vou me perdoar
eu vou esquecer
mas anets vou culpar
vou dizer e cuspir em seu nome
vou ditar as regras

deixe eu ficar em lugar
esquecer todos os pecados
mais mesquinhos
pequeninos
destes erros que cometi
deixe eu esperar até a noite passar
e enfim o álcool
lubridiar meu eu

Hoospício

Para onde eu puder ir
nos corredores brancos
aprisionados em quartos brancos

somos lençóis distantes
uns dos outros
enjaulados
como macacos
em camisas longas

ficamos em silêncio no
eletrochoque
deixamos que nos roubem
que nos tirem a sanidades

doutores mesquinhos
que entorpecem nossos sentidos
que riem e fingem
serem nossos donos

reis que nos cegam
porque somos todos
enforcados nestas jaulas
de ignorância
A prisão dos mudos
tolos e o silêncio
que consome cada palavra
consumir e gastar cada pedaço

flores que ainda nascem
nestes brejos
homens que ainda sonham com castelos
a razão dos loucos
se perde nas nuvens
esquecidas

aqui ainda ouvimos o som
das trovoadas, mas são os ricos que
nos roubam
Tá preso na garganta
um grito de dor, desespero
não sai e não engulo
este grito que não tem som
mas dói e arde no fundo do estômago

quero gritar para livrar-me destes
monstros
o som do silêncio corrói o espírito
deixe eu soltar

mudo estou neste oco e vazio
explode aqui dentro
agita a bomba atômica
preso. Para sempre preso

deixe voar
nas correntes da liberdade
deixe eu gritar!!!!!
expurgar a ira

mas eu calo
eu mudo para tudo
deste lugar
apenas o som do nada
foi o início deste homem
foi aqui no fim
precoce
a prece de uma estátua
uma cláusula

foi aqui a morte de Zé
sem qualquer idioma
sem nacionalidade
preso nas conexões estranhas
corre para longe
corre daqui
no desespero
no desperdício, sua alma
sua casa
sua vaca

corre para longe
onde for distante
corre para sempre

Friday, August 14, 2009

a vida, como um lago
uma luz que brilha
na superfície
em um momento se
propaga
e num outro se dilui

refração
faz a luz dar cor ao mundo
além da superfície

cosmos

o dia e a noite
também chamados de sol e lua
se cruzam na beira do crepúsculo
no limiar da insanidade
dois corpos celestes
se amam
por segundos infinitos

a dança lascívia
paira entre calma
e tempestade
fazem um percurso rotineiro
intercalado de turbulência

vagam sozinhos abraços pela
sombras e a escuridão
um apaixonado pela luz, pelo brilho
pela imagem subjetiva da manhã

enquanto o outro nebuloso e
obscuro
se contorce para fazer distinto entre
toda a plenitude da escuridão
dois corpos dançantes na praia da solidão
almejando no um segundo, um longo segundo
um descuido divino
um colapso para a imensidão

mas a plateia de estrelas que chora
como eles
faz de seu destino uma tragédia
constante e feita somente de um instante

Aqui em minha terra

Este é meu lar
meu território
sou rei sem coroa
sou a coroa de minha alma

Aqui sou cristão, sou poeta
sou herdeiro do tempo
sou fruto da verdade

Este é mue lar
minha terra
onde a carne se funde com areia
e faz de mim o barro do eu

Aqui não há limites
e não infinito distante
o alcance dos meus pés
será o caminho que seguirei

Este é meu lar
minha terra
minha humilde casa

Thursday, August 13, 2009

almas ocas

Naquele lugar vazio
seu corpo inútil
frio e só

Tudo era um resumo
descolorido
o tempo, um relógio que anda para trás
a sala vazia, esvazia
em tons disformes
corpos acelerados
caindo no chão

vozes, são vozes
gritando no eco repetido
da sala de jantar
até sala de estar
figuras sem nome
usando máscaras diárias

gente sem nome
eu no meio deles
e eles como eu
esquecidos neste
beco de almas ocas

versos de um lugar qualquer

Eu ando, eu respiro
Eu ainda vivo
Eu não sinto dor
neste silêncio sublime
eu perdoo
eu me entrego ao tempo

sou um registro
uma leitura branda
uma calma sem questões

deixe suas dádivas neste
véu tingido de anil
deixe seus sucessos em tiras de papel
deixe queimar e apagar suas marcas

eu respiro, onde o ar me falta
eu existo, eu vivo nas palavras
abandonadas, nos versos poucos pragmáticos

eu abandono tudo
por um pouco deste lar
não importa quão profundo seja estes sonhos
eu existo ainda que a negação de sentimentos
possa se apossar do eu

Wednesday, August 12, 2009

passagens sombrias

um olhar pelo paraíso
num instante desperto
sou eu num semblante
uma imagem distante
novamente submerge para o além

o fim marcado no rosto
uma luta vazia
um túmulo de desonestas respostas

espalhados pelo litoral
um amontoado de dores
e lágrimas
mesclado ao lixo

sou um refém
de um sequestro interno
meu inferno
sou o silêncio da ignorância
a letargia dos amaldiçoados
por fim no morro
neste diluvío

enterro todas as palavras
que esqueci de escrever