Friday, March 20, 2009

ele e ele

dois homens nos bancos
duas figuras sem rosto
conversam entre si
duas conversas sem êxito.

dois homens sem rosto
procuram se enxergar
não há escuridão visível

há apenas duas personagens
distantes em sua própria proximidade

dois parenteses sem ligação
Eu vejo duas faces ocultas
de uma mesma relação
um jogo de espelhos
uma distorção, uma simples imaginação

dois homens sentados num banco
são apenas dois homens, apenas dois homens
duas faces
duas partes

beco vazio

Eu não estou aqui.
Toc..Toc.. Alguém bate
Há alguém lá fora
Mas eu..eu não estou aqui

Desespero. Sufocamento. Falta ar. Falta vida.
Falta algo. Falta eu.

O tempo passa. E tudo que vejo é um vidro cheio de lama
Eu apenas vejo. A sujeira está ali, porém eu não.
Toc..Toc.. Alguém ainda bate.
Eu ouço, mas apenas o vazio silencioso
deste oco mundo responde.

o tempo me engole.
Uma fuga, uma ilusão, o real
dança com as sombras.
Toc..Toc..Não há mais ninguém lá fora
Restou apenas a onomatopéia flutuando
neste beco vazio

mil flores

mil delas
milhares para colorir o meu jardim
flores espalhadas
cada uma para uma dama
cada dama para um sentimento

mil flores para festejar a vida
mil dores para as lágrimas mortas
mil odores para as rimas prosaicas

aqui neste harém perpétuo de sonhos
restam mil favores
de um punhado de homens

Wednesday, March 11, 2009

olhos frágeis como os seus
que me trazem ao meu lugar
deixo os sonhos em seus lugares
e passo à amar
como existo em pleno mar
o céu parou de chorar
árido como nossos pés
vil como nossa alma
assim é a terra sem lei
assim purgamos pecados
em verdades

caminhos que por aqui
se abrem
fecham as portas do paraíso
mas este tal lugar mítico
é apenas tese
ilusória

nossos pés que dançam
livremente entre estrelas
nossos corações que ardem em ódio
suor profano e palavras bestiais

a fera humana
alimenta aqui neste lar tão
nosso e mundano

Wednesday, March 04, 2009

eu, o espelho
a imagem que não sou eu
eu, vejo a imagem
que reflete
eu sou a imagem
mas na alma
sinto apenas ânsia por respirar

o espelho, não sou eu
não há imagem
atrás de mim
apenas uma falsa
imagem

Tuesday, March 03, 2009

um sonho sem sentido
um sentido no sonho imerso
em freud
mas a cavalgada humana
pesa em ombros sutis
tudo torna-se simples
gira e fica impuro
neste perpétuo ato vivo

meu corpo é uma arma
que culmina na violência
e na ignorância
temo netse círculo infinito
perder
as poucas lacunas reais
de minha existência

o dia lá fora foge pela janela
e eu aqui aprecio a morte como
salvadora

ainda acho que o pensamento que
inunda é apenas meu
mas sei que constituo apenas de lágrimas
ainda não começamos a pensar

que a inutilidade de palavras
tornam-se rios desvairados
e ocos

sem sentimentos, sem causa
o fio que conduz não é mais real
que um punhado de ar

a mente é uma forma inativa
é um emaranhado sem vida
se fincarmos nossos pés neste corredor solitário da existência

Monday, March 02, 2009

atrás da porta um, como qualquer outro
espera
mas esta espera passa
e não passa ao que espera
Mas então para ele
o tempo é um fagulha ainda acesa

uma mancha inexistente
mas ele existe
se ele pensar
se ele mais do que esperar, agir

e o ato ao ser de fato consumado
torna o tempo passado
e o mundo atrás da porta
um lugar desesperado

a espera é o medo
desesperado por não deixar o outro lado
tornar-se real e completo
pelo outro lado

o homem qualquer
precisa ser e ter um nome
para enfim deixar o tempo fluir.
um tempo no vazio
todo homeme caminhando
em seu destino

silêncio, um vazio
sutil
inutil
o homem é

um poço fundo. Amargo
áspero
o fim. cansado
exausto. o fim
final

um homem
qualquer um alimentando do silêncio
o silêncio. a fome
imenso no fim
o mundo um parábola
humana do fim
meu olhar direciona
ao norte
meu olhar se perde no horizonte
eu filho da terra
apadrinhado no vento
oro ao fim da dor que dilacera o mundo

mas o silêncio não existe
e o mundo
cansado consola-se com o pranto
de causas dormentes
a terra em chamas
o homem em cinzas
as mãos áridas
cheias de calos e dor

a terra gasta
de alimento dos homens
os homens chorando pela
total ignorância

o mundo encolhido,
uma formiga faminta
uma traça devorando
o ar fétido

o homem um abutre
que sobrevoa a terra