Sunday, April 30, 2006

talvez eu seja louco

vida...pontos entre gastos
pastos
vírgulas completando como esquinas
as passagens sem rima
nem aspas
nem mancas aspas
cumprirão o deleite
de viver
de desviar o que é breve
numa súplica
num riso
abafado

nem a paixão
gasta
nem a dor perdida
será devorada
açoitada ao deleite dos porcos

recordar
recortar cada página
vivida
restituir
cada lembrança
consumida
num mundo de máquinas selvagens
de números e cifras
serão as preces do amanhã

Monday, April 17, 2006

a Fábula do Boi morto

na estrada
de algum lugar
chamado Paraíso
havia um boi morto

jogado
estava a impedir a passagem
não era lugar de pastos,
nem padarias.
não era descanso,
nem parada
pouco importava
aos passantes
que pouco dizia
e quando muito
se faziam
por visto
tal tragédia

um corpo
jogado no caminho
no meio
do mundo.
uma fúnebre
paisagem de moscas
e neste túmulo
sem rosas
neste lugar de
travessias
não havia
alma humana
a rezar
por um boi morto

ele ficaria ali
pois todos desviariam
deste entulho de carne
todos, se não fosse
o cego impedido a passar
que por horas
orou e orou
não por dó, nem bondade
mas sim tomado de infinita ânsia
de passar ao lugar chamado Paraíso

Sunday, April 16, 2006

náuseas poéticas

descuidado poema
escrito
enfim na sólida rocha
dos pesares
aqui a dor divagante
de uma noite mal dormida

onde pensas me levar
no cais da partida,
na chegada
arrependida

culpa
culpa que cuspo
aos berros
aos estrondos díspares
de um rochedo
preso
ao ventre do mar

Wednesday, April 12, 2006

cada copo de tragrédia

a distância a se cumprir
em cada gota de verdade
mergulhada
no abismo do ventre
daquela branquinha ou loira de botequim

faz juz ao vício
deste copo vazio
de um transparente
desejo,
regojizo
ao júbilo humano
uma alegria comprada barata

terrível tormento
a espera de um amanhecer,
de um reflexo
vazio por detrás do balcão
do alívio digno
da indignidade de viver

ele está como
todas as noites
de todos
os meses
de todos os mesmos
lugares
sempre no mesmo
passo rumo
ao nada

e assim são
estes olhos profundos
quase singelos
tocados do mar da angústia
seguem a trilha de mais
um copo vazio
de mais uma esperança faminta
de um corpo caído nas praias deste balcão

cirandas
circulando os mesmos contornos
todos os sorrisos,
meandros dessa ironia
preso ao ritmo
de um gole
uma morte
uma sorte ao relento
de um copo após ao outro

Tuesday, April 11, 2006

sempre meu egoísmo

a mesma promessa
de ser feliz
a mesma conversa
de ser feliz
e você
não fez
nem questão de cumprir

da mesa vazia
e de seus olhos assim
marcadas no vão
da tua agonia
e você ainda sonha
ainda ousa dizer
aquelas coisas de casal

as mesmas coisas
vividas
das mesmas pueris lembranças
deste lugar, deste vulgo
passado
jaz deserto

E você que quis fazer
uma foto antiga
ser tão atual
tantas tolices
muito encaminhadas

enquanto cantas
quantas mil palavras
rasgamos naquele lugar
e
quantas vezes eu vi você
arruinar
o que agora já se passou

e eu sempre te perdoei
até agora
e eu sempre fiz cada lágrima
um sorriso
sem mágoa
feito do ópio do amor

prisões em silêncio

já vou indo
levantando a poeira
nem rastros, nem sombra
eu já vou passando
nas diagonais
nas transversais
vou saindo
deste canal

vou guardando
passados
e desejos cansados
vou deixando
para trás
aqueles passos
do amanhã

morrem aqui
no jazigo sem nome
um homem
sem trégua
vou levando embora
a paixão
a razão
da qual fui completo

vou me embora
agora
para nunca mais olhar
meus passos
de horas atrás

vou pra lá
erguer meus muros
de solidão
buscando solidificar
a prisão
de silêncio

Monday, April 10, 2006

somas

milhares, trilhares
elevações exponenciais
refrazeando o universo
simples
do inverso de:
um toque, um olhar
um dizer

mulheres, driades
ou ninfas
putas ou cinzas
lábios e bocas
cheiro e sexo
dinheiro
e ganância

todas as coisas
guardadas num beco sem fim
todas as somas
destes sentidos imersos
em mais sentidos

dizeres e afazeres
nestes segundos restantes
mudos segundos
que
eu, você e mais um
sempre mais um
na tríade da traição
na sólida constituição

sempre somando
a soma da imperfeição
universos bipolares
divisores
de águas
anjos maias
dos números que acabam
no amanhã

nem paralelas
nem flechas cruzarão meu
destino
elas e outras
vozes somando
números irreais
ao furo
sangra dentro do homem
vazando palavras
denunciando o que nunca deixou de somar

tempo de crisálida

dentro
ou fora
aqui sempre terno
fértil tais sinais
as
sombras em revolução
afora eu serei
ser
terei de existir
e mostrar que sou o que devo ser

as incertezas
de ver
e tocar o que devo
sentir
as vestes que devo vestir
as palavras que devo dizer
e tudo que não posso negar

perguntas as quais jamais
devo negar responder

a porta se abre
a luz se torna opaca
a dor e
as lágrimas
rompem
como sinos dos
sorrisos eufóricos
embrenhados em choro melancólico

vou ser carne
do adeus
e todos um dia choraram
a vida que não lhes pertenceu

quero ficar
neste calor
e conforto
quero açoitar a vontade
de gaia
mas o tempo de crisálida passou
e a luz que cega a visão
me chama..me chama..
para despertar no mundo lá fora
nem melhor, nem pior
um mundo que não sei se escolhi
ser
mas não posso negar viver

quando os lobos choram

os chiados
chispas no remoto som
das araucárias
uivos em meandros de lágrimas
não eram mais perigosos
estes pelegrinos
sedentos
da sede de ser

lobos e lobos
no uivo da vida
no enlace fraterno
de romper
a escuridão
da alma

farão a terra estremecer
farão
a noite calar
correndo livres
sem culpa
perder-se
a realidade
que os torna vis

mas são lobos
famintos
devoradores
de homens
sedentos da fúria
mundana

selvagens
vagos selvagens
aqueles que choram
por temer
o infinito romper
morrer em poucos instantes
até mesmo os lobos temem
ser e entender

Monday, April 03, 2006

rumos do infinito

procuramos nos grãos
de areia,
procuramos
no tempo
arrastado
da memória,
procuramos nas palavras
ou nas fagulhas do nada
um raiar de sol
uma chama de verdade

e tudo que nossa prece
alcança
é um surto de histeria
cólera de alegria
fervor
de uma crença levado pela agonia
de viver

cada passo rumando
nas dunas do desespero
perdemos os rumos
e achamos proteção em
conchas vazias
e fincamos enfim a bandeira
até..até..

mas aindam restam perguntas
as mesmas de ontem
as que ameaçam a tempestade
do amanhã

assim
os grão de areia
soltarão no vento
e voltarão
quando esquecermos destes
para lembrar..para fazer lembrança
do que deixamos de ser estrofes atrás