Saturday, October 04, 2008

conquista

perdemos
perdemos todas as frações reais

mãos e pés açoitados pela
gravidade
o corpo flácido
a alma gotejando lentamente
o gozo divino da existência

ainda têm cães famintos
lambendo nossos rastros
urubus sobrevoando
a carne seca

perdemos tanto tempo
procurando palavras
que secarão no abismo do poço

perecemos em segundos
ao redor de árvores sem frutos
aos poucos somos passagens

somos aves partindo em busca
mas a busca acaba sem
um ponto de chegada
apenas uma sutil e formidável
sensação humana

um por quê?

onde o sal semeia dor
onde o caos
cercado de lama

olhos que choram
são puros
numa noite qualquer

mas o calor
consome o homem
que nas mãos árduas
gastas pela selvageria do tempo

onde o mar não acolhe os
sonhos
onde a areia machuca os pés

resta a pela cicatrizada
a alma já arrancada
do corpo
a carcaça ambulante
não clama
por nada

onde o homem
já preso no ventre da terra
onde a realidade
é feito de sol e areia
e sal

o ser perdido
no achado de terra
na posse simplória
de uma existência
não nobre, nem vaidosa

um sobrevivente
sem pensamento
um nada existindo no meio
do vazio
eu sei, ele também
ele pensa na saída
ele não faz por quê?

notas para um amanhã

a luz de um amanhã
cega
um ar inerte
inepto
situa meu desespero
viver! Viver e a agonia de existir

tomado pelas labaredas
de amar
cego pelo tempero incógnito
eu amo e assim
passo a existir

carrego mais
alma na minha carne
antes adormecida

acolido pelo rumor de um amanhã