tenho ódio
tenho ódio de tudo
tudo que gira e deixa girar
tudo que fica e estático está

odeio o fundo e o oco
o seco e o molhado
o feio e o bonito
tenho ódio do que se move e deixa ficar
tenho ódio de tudo e todos

odeio a bandeira
a corte marcial
a noite que condena
o sol que irradia
a borboleta que desabrocha
a bolacha recheada e o bilhete premiado

eu odeio o mudo e o calado
o gato e o cachorro
odeio o certo e o errado
ciclano e fulano
a direita vestida de esquerda
e a esquerda caída na direita
odeio o invertido o direito

eu quero é a guerra civil

os olhos que condenam
ainda podem amar
os olhos que partilham
ainda podem dizer
ainda deixo cair as lágrimas
que um deus
me permitiu tir
eu não acredito
nas palavras que rasguei ao véu
desta ilusão

olhos que me vêem
ainda enxergam
ainda dizem que eu sou
uma alma
que pode sonhar.

olhos iguais aos teus
que se decepcionaram
diante a lança que cravei
nas almas
dos inimigos
eu sequei suas lágrimas por mim