Tuesday, August 15, 2006

meu último sonho que custo arduamente a lembrar

ao som da madrugada
ouve-se os lobos chorarem
entre sombras imóveis
passos rumam ao desespero
por uma loucura em rente desabrochar

remontam mais uma noite
de tormento
em cada rua e esquina
um silêncio
tal este que derruba
a morte do solstício
longo e nulo início
É a muralha que separa os homens
É assim e sempre será um lugar chamado cidade

lembram-se dos lobos que choravam?
lembram-se dos prantos em eco que formavam
tais vozes?
não, não desmentem a ruína
que a solidão nos esvazia

não são os homens surdos,
nem as casas ocas.
talvez o revés de um infortúnio
porém sei e sei
que são
muitas as luzes de neon.
muitas as cores sem frison.
que como manchas adúlteras e
marcas uniformes
deste rosto disforme
tornam o lugar ao meu redor,
meu vasto e tão etéreo lar

sim, é meu este espelho
de pontas quebradas
este quadro arredondado
de picasso
que recua monstros
retoca meus olhos de borrões negros
e cirroses agudas

É agora o som dos lobos devorando carne
huamana
eles têm fome como eu
eles são animais como eu
eles são meus irmãos
ou talvez um dia foram

eu? este fim de pensamento
é o que sobrou
num fim de beco
numa bocada imunda
me pergunto: eu?
Não deixei isto aos pensantes
que por ali ou acolá passam
pois destino-me a estar
a lembrar
e ficar aqui ou, como dito antes,
acolá

sim, quando preso na liberdade
de existir
eu e você fazemos aquilo que restou,
uma prece,
uma simples oração sem palavras
em conjunto ao som
que quase se extinguiu
repito mais esta noite e repito até apagar
a última luz que puder vibrar
nas ruas de um lugar chamado cidade

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